Sobrevivendo a uma crise de fé (e como os membros da Igreja podem ajudar)
Os membros da Igreja podem experimentar uma crise de fé por vários motivos. Seja por causa de uma descoberta de um relato desagradável, mas verdadeiro da história da Igreja, de uma experiência negativa com um líder ou de uma mudança recente nas diretrizes, a razão de cada pessoa é válida e deve ser tratada como tal. Confira algumas maneiras de ligar com uma crise de fé e como os membros podem ser de grande ajudar.
A anatomia de uma crise de fé
Para muitas pessoas que passam por uma profunda crise de fé, todo o seu mundo desaba porque ele foi construído com base na crença da veracidade da Igreja e na estrutura que a Igreja proporcionou em suas vidas.
O fato de eles terem passado anos testemunhando: “Eu sei que a Igreja é verdadeira”, e que agora não acreditam mais nessa declaração, eles questionam tudo que já conheceram. Os velhos modos de ter uma resposta se tornaram suspeitos. Eles perguntam: posso confiar em experiências espirituais passadas? Quando começo a duvidar que autoridades, fontes, vozes ou experiências posso confiar para achar essas respostas urgentes? Como eu sei que Deus vive? Como eu sei que Jesus ressuscitou e expiou por meus pecados? Por falar nisso, como sei o que é pecado e o que é justiça? Como eu sei que os padrões morais ensinados pela Igreja são a melhor maneira de viver minha vida? Como posso saber alguma coisa?
É uma das coisas mais confusas que podem acontecer a uma pessoa, especialmente a alguém que é membro da Igreja há muitos anos.
Quando estar na igreja é difícil
Pode ser fácil sentir-se oprimido na participação na Igreja. Há tantas maneiras de falhar, tantas pessoas nos decepcionam e nos ofendem, tantas pessoas que nós ofendemos e desapontamos, o que faz parte de ser humano. Quando os membros da Igreja ou seus líderes não cumprem os valores que defendem, é fácil questionar o valor de nossa associação a eles. Se Sião é a sociedade ideal, então é bem claro que nossas alas locais e, portanto, a Igreja como um todo, não é.
Não há fórmula mágica para permanecer na Igreja quando isso é difícil para você. Mas talvez essas sugestões sirvam como um alerta útil à medida que você pondera sua própria situação e decisões, seja em sua própria jornada de fé ou em seu auxílio para aqueles que você ama.
Simplifique
A Igreja é uma instituição tão grande, tão complexa, tão variada, tão abrangente, com tantas atividades e regras. Para alguns, parece incrivelmente difícil acompanhar. Para alguns, a vida na Igreja pode até parecer opressiva e crítica. Às vezes parece demais.
Se não consegue fazer tudo, não tente. Simplifique. Escolha uma escritura favorita e viva de acordo. Evite pensar na vida na Igreja como uma enorme lista de tarefas que nunca acabam. Pelo contrário, pode ser que as muitas reuniões, programas e aulas da Igreja ofereçam muitas possibilidades. É verdade que alguns de nós podem tratar a Igreja ou o evangelho de maneira muito parecida com um bufê, onde escolhamos apenas o que nos interessa. Mas não podemos esperar a perfeição nesse exato momento da mortalidade. Perceber que não há como fazer tudo de uma só vez pode ser libertador. Se eu pudesse fazer apenas uma coisa boa hoje, o que deveria ser?
Trabalhe isso de forma criativa
Se há algo na Igreja que nos incomoda, que possamos tentar lidar com isso o melhor que pudermos. Não podemos resolver problemas repetindo a mesma coisa e esperando resultados diferentes. Temos que ser criativos e proativos, ocupando-se “zelosamente”. (D&C: 58:27)
Natural e inevitavelmente, há problemas em cada quórum, em toda a Sociedade de Socorro, em todas as alas, etc. Podemos identificar os problemas e depois trabalhamos para resolvê-los. Mas nós não devemos impor nossas ideias, por mais que gostaríamos. Devemos agir de maneira a mostrar sensibilidade e compaixão. A Igreja é formada por seus membros. Em muitos aspectos significativos, nós somos a Igreja.
Crie espaços de inclusão
Temos que pensar sobre o que mais valorizamos. Como um blogueiro recentemente disse: “Se nosso objetivo é encontrar uma maneira para as pessoas com problemas permanecerem na Igreja então precisamos fazer da igreja um lugar onde todos os tipos de pessoas querem estar e onde elas se sintam genuinamente valorizadas.”
Nós contra eles?
Naturalmente, nenhuma das sugestões acima faz qualquer coisa para mudar o Manual da Igreja, um líder da Igreja, diferenças estruturais entre homens e mulheres na Igreja, ou algo na história da Igreja que nos deixam desconfortáveis. Para criar uma igreja onde as preocupações legítimas das pessoas possam ser ouvidas, temos que construir a confiança de que os membros e líderes da Igreja podem trabalhar juntos e ouvir uns aos outros.
Tanta desilusão vem porque sentimos que não podemos confiar uns nos outros, e que somos “nós contra eles”. Precisamos encontrar uma maneira de ter conversas saudáveis e maduras sobre assuntos difíceis e complexos. Se não for possível publicamente, que pelo menos tenhamos conversas particulares com membros que estão pelo menos tentando amar uns aos outros como Jesus.
Nem todo problema pode ou será resolvido imediatamente. Mas quando encerramos um diálogo construtivo ou desaprovamos críticas baseadas no amor e na preocupação genuína, então o cinismo naturalmente se instala na frustração das pessoas e elas sentem que não são valorizadas e que as coisas nunca vão melhorar. Da mesma forma, aqueles naturalmente inclinados a serem cínicos devem aprender a temperar seus sentimentos cultivando confiança, abertura e generosidade para com os outros. Paulo fornece bons conselhos quando ele aconselha em Colossenses 4:6:
“A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.”
No início e no final do dia, as virtudes cristãs de misericórdia, paciência, tolerância e perdão devem governar nossas interações e conversas.
Ficar ou sair
Para algumas pessoas, a Igreja parece tóxica e elas não conseguem estar presente. Para outros, não é tão claro. Eles ainda são atraídos por muitas das virtudes do mormonismo, mesmo quando testemunham ou experimentam algumas de suas deficiências. Eles genuinamente sofrem ao pensar sobre ficar ou sair.
É possível viver dentro da Igreja mesmo quando atormentado por dúvidas, questões e sentimentos de alienação. Há muitos benefícios de permanecer na comunidade, mesmo se você estiver aflito com um ou mais dos seus aspectos, e até mesmo se tiver que renegociar alguns termos. Na maioria dos casos, as dúvidas podem ser melhor trabalhadas na companhia de outros santos dos últimos dias, em vez de deixar a Igreja e os membros para trás.
Às vezes, pensamos que estamos dentro ou fora, que acreditamos ou não acreditamos. Mas os humanos são mais complicados que isso. Nós temos partes crentes e incrédulas em nós. Podemos pensar que não acreditamos, mas alguma parte dentro de nós acredita. O contrário também é real, até mesmo crentes dedicados têm dúvidas e problemas. A psique humana, incluindo nossa vida espiritual, raramente pode ser reduzida a meros binários. Vivemos em um paradoxo o tempo todo. Para encontrar a verdade, como Joseph Smith sugeriu, temos que trabalhar duro e muitas vezes vivermos com dúvidas.
Discordar
Viver com aqueles que discordamos não é apenas o fardo daqueles que questionam ou que sentem que não se encaixam. Viver com aqueles que discordamos é igualmente importante para os crentes verdadeiros que podem se sentir incomodados por membros de suas alas e famílias que parecem pouco ortodoxos, estranhos ou liberais.
Podemos nós, como indivíduos e comunidade da Igreja, lidar construtivamente com as inevitáveis questões e problemas que encontramos, ou vamos vê-los apenas como ameaças existenciais? Será que categorizaremos aqueles que duvidam como “almas perdidas que devem corrigir seus pontos de vista para que possamos nos relacionar”, ou os trataremos como membros da família a quem amamos e cuidamos?
Apoio dos membros
Como o conhecimento espiritual é valorizado como uma virtude na cultura mórmon, dúvidas parecem algo ruim, e as pessoas que lidam com dúvidas podem ser vistas como suspeitas de estar encobrindo algum pecado mais profundo ou de preferir entrar em algum tipo de estilo de vida não aprovado pela Igreja. No entanto, na maioria dos casos, não cabe a nós dar um veredicto sobre o estado da alma de outra pessoa, e seremos muito mais eficazes (e melhores cristãos) quando damos às pessoas o benefício da dúvida.
Simplesmente assumir que alguém com dúvidas é culpado de alguma grave transgressão moral ou fazer com que essa pessoa se sinta de alguma maneira infiel ou indigna apenas por causa de suas perguntas, revela falta de caridade. Se alguém reunir coragem suficiente para compartilhar sua dúvida com um dos pais, cônjuge, bispo, professor do seminário ou amigo e for recebido com julgamento ou desprezo, provavelmente ficará se sentindo isolado.
Tomar medidas evasivas quando confrontado por um membro da família ou amigo talvez não tão imediatamente prejudicial, mas geralmente é tão pouco construtivo. A resposta “ler as escrituras e orar”, embora certamente seja um bom conselho no princípio, é muitas vezes inútil em tais casos por duas razões: por um lado, a pessoa já tentou ler suas escrituras e orar sobre suas perguntas. Por outro lado, uma resposta automática demonstra uma falta de preocupação pela pessoa e seus problemas reais.
Amar os outros e estar em um relacionamento verdadeiro com eles, é chorar com eles, confortá-los quando eles precisam de conforto, saber em profundidade quais são seus fardos, etc. Para que assim você pode ajudar a aliviá-los (ver Mosias 18: 8–9).
Quando as pessoas que amamos estão sofrendo, nossa primeira resposta não é culpá-las ou rejeitá-las ou banalizar sua mágoa. Nós vamos a eles. Nós os abraçamos. Se não sabemos o que falar, simplesmente nos sentamos com elas. Em primeiro lugar, nós os amamos, independentemente de suas crenças ou lugar na Igreja.
Dúvidas que fazem as pessoas se sentirem culpadas por terem perguntas não é propícia ao crescimento espiritual. Também não é útil ignorar as perguntas como se fossem inválidas, sem importância e equivocadas. Na verdade, lidar com dúvidas na Igreja hoje é um dos testes mais importantes de nosso discipulado.
Meu apelo para aqueles que estão tendo dificuldades na Igreja e que se sentem à deriva é simples: encontre algum tipo de âncora que funcione para você. Encontre algo ou alguém na Igreja para se conectar, mesmo que tudo o mais pareça tênue. Encontre uma maneira de permanecer na órbita da Igreja porque a Igreja orbita em torno de Jesus Cristo. Para aqueles que já sentem que seus pés estão em terra firme, meu pedido também é simples: seja o tipo de amigo, membro da família ou membro da Igreja que forneça a conexão segura de que todos nós precisamos tão desesperadamente.
Fonte: LDSLiving
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