O que este homem aprendeu sobre a verdadeira amizade ao falar sobre sua homossexualidade
Eu tinha um diário secreto sobre o meu maior segredo. Existem apenas onze registros nele, e são cheios de medo, esperança e as coisas mais honestas que eu já escrevi.
Parte do meu primeiro registro em 27 de junho de 2007 diz: “Desde que eu era adolescente, tenho lutado contra a atração pelo mesmo sexo. Esta é a primeira vez que admito esse fato, exceto em oração”.
Eu tinha vinte e três anos. Admitir isso no papel era muito importante, porque admitir aquele fato o tornou real. Passei a dizer que tinha medo de deixar a Igreja.
Escrevi abertamente sobre o assunto pela primeira vez. Essas palavras escritas me permitiram ver o que estava acontecendo em minha própria cabeça e coração, então pude dar um passo para trás e realmente observar minha própria vida de uma forma que eu não havia feito antes.
O que vi foram páginas e mais páginas de medo. Eu tinha medo de ter que deixar a Igreja. Eu tinha medo de ficar sozinho para sempre. Eu tinha medo que as pessoas descobrissem que eu me sentia atraído por homens.
Em 28 de junho de 2007, escrevi: “Estou com medo de ter que admitir minha atração pelo mesmo sexo para a minha família. Eu sei que eles ainda me amariam e apoiariam, mas sei que seria difícil para eles lidarem com isso. Prefiro passar por isso sozinho do que machucar meus pais”.
Eu sabia que podia confiar neles, mas como poderia contar a eles? Eu queria protegê-los e pensei que era forte o bastante para lidar com isso sozinho.
Em todo o diário, eu imploro por entendimento. Por exemplo, em 7 de julho de 2007, escrevi:
“Qual é a razão desse julgamento? Eu sei que um dia isso vai acabar e oro para que Deus apresse o dia”.
No dia seguinte, escrevi: “Oro para que Deus me ajude a saber qual é minha missão e propósito. Se não é o casamento, então o que é?”
A palavra julgamento aparece diversas vezes. Tentei ser o mais justo e fiel que pude, mas continuei a descer ladeira abaixo. Então, em meu diário, citei Jó 13:15: “Ainda que ele me matasse, nele esperarei”. Mesmo que eu estivesse morrendo por dentro, eu tinha que confiar em Deus.
Em 13 de julho de 2007, escrevi: “Eu queria contar para meu colega de quarto Craig sobre minha atração pelo mesmo sexo, mas não sei se seria uma boa ideia. Eu encontraria um bom apoio ou perderia um amigo?”
Aqueles meses foram os mais sombrios da minha vida, meses em que eu só queria desaparecer porque encarar o futuro parecia muito difícil.
Eu me senti com Joseph Smith que, após meses na Cadeia de Liberty, clamou: “Ó Deus, onde estás? E onde está o pavilhão que cobre teu esconderijo?” (D&C 121:1).
Por que Deus não atendia as minhas orações de acabar com a minha provação? Onde Ele estava? Parte da resposta do Senhor à súplica de Joseph foi: “Teus amigos apoiam-te”.
Lembrar Joseph de que seus amigos estavam ao seu lado foi a maneira como o Pai Celestial o consolou no momento em que ele clamou por ajuda.
Existem apenas onze registros no meu diário secreto porque no mês seguinte descobri que meus amigos me apoiariam.
Comprei uma cópia do último livro de Harry Potter no dia em que foi lançado, em 21 de julho de 2007. Ou melhor, minha mãe comprou três cópias e me deu uma.
Os três meses anteriores haviam sido horríveis, e mergulhar no mundo de Harry Potter foi uma fuga da realidade muito bem-vinda. Assim como Harry, senti que era minha responsabilidade de vencer um mal que só eu poderia derrotar.
Tanto Harry quanto eu não percebemos que não tínhamos que fazer isso sozinhos – tínhamos amigos que lutariam conosco. Eu normalmente não choro quando leio livros. Não chorei quando algum dos amados amigos de Harry morreram no último livro, mas não consegui me segurar em uma parte em particular.
Harry, Hermione e Ron retornam a Hogwarts no final do livro sabendo que a última batalha está para acontecer. Todos os alunos são evacuados da escola, mas todos os alunos da Grifinória e Lufa-Lufa ficam para lutar com Harry.
Enquanto Harry testemunhava os alunos prometendo permanecer com ele, me perguntei se meus amigos fariam o mesmo.
Aquele ato de lealdade e auto sacrifício, enquanto eles coletivamente carregavam o fardo de Harry com ele, me levou às lágrimas.
Poucos dias depois de ler sobre como os amigos de Harry o apoiaram em seu momento mais difícil, eu finalmente revelei meu fardo para dois de meus amigos e aprendi que eles eram igualmente leais.
Humildade e vulnerabilidade são princípios que andam juntos. É preciso humildade, despojar-se do orgulho e da pretensão, para ser verdadeiramente visto.
Foi preciso humildade para que o centurião romano pedisse a Cristo que curasse seu servo. Foi preciso vulnerabilidade para a mulher com fluxo de sangue estender a mão e tocar as vestes de Cristo no meio da multidão.
Foi preciso humildade para que Zeezrom pedisse uma bênção a Alma e Amuleque depois de criticá-los publicamente. Foi preciso vulnerabilidade para que o filho pródigo retornasse e pedisse para voltar para a casa de sua família.
Em um ato supremo de vulnerabilidade, o Salvador pediu a três de Seus discípulos para vigiar com Ele. Ele pediu a seus amigos mais próximos que estivessem com ele.
Então ele orou três vezes diferentes, dizendo: “Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; porém, não seja como eu quero, mas como tu queres.” (Mateus 26:39).
Jesus Cristo era vulnerável o suficiente para pedir ajuda, mas Ele era humilde o suficiente para fazer a vontade de Seu Pai. É algo muito humano não querer fazer algo difícil, mas é um atributo cristão fazê-lo de qualquer maneira.
Tentei ser humilde e vulnerável, mas toda vez que considerava me assumir para um amigo e deixar essa pessoa entrar na minha vida, eu perdia a coragem.
Deus, sendo misericordioso e bom, orquestrou o cenário ideal para que eu pudesse falar com os meus amigos. Na noite de 12 de agosto de 2007, meu amigo Mitch ligou para saber se eu queria dar uma volta.
Éramos melhores amigos no ensino médio, mas em todos os nossos anos de amizade nenhum de nós jamais convidou o outro para dar uma volta. Quando desliguei o telefone, perguntei ao meu colega de quarto Craig se ele queria ir também, algo que nunca havíamos feito antes.
Enquanto íamos para o apartamento de Mitch, comecei a ficar tão nervoso que me senti fisicamente doente. Achei que fosse vomitar.
Nós três acabamos caminhando em um parque nos arredores da BYU. Achei que talvez não devesse contar a eles que era gay, talvez não fosse o momento certo.
Então, ponderei sobre as circunstâncias que me levaram a um lugar tranquilo com duas das pessoas em quem eu mais confiava no mundo, e eu sabia que tinha que contar para eles.
Perguntei se poderíamos sentar na grama porque queria contar algo a eles. Eu enrolei e hesitei por alguns minutos, sem ter certeza se conseguiria pronunciar as palavras.
Fiquei puxando folhas de grama porque eu não conseguia encarrar o Mitch e o Craig. Enquanto puxava a grama e olhava para o chão, me lembrei de que há meses queria conversar sobre o assunto com meus amigos e que Deus me proporcionou o melhor momento possível para isso.
E então, respirei fundo e, pela primeira vez, pronunciei as palavras que havia roubado de um blogueiro anônimo: “Desde que me lembro, sempre me senti mais atraído por homens do que por mulheres”.
Depois de dizer em voz alta o que tive medo de admitir durante toda a minha vida, olhei com apreensivo para Mitch e Craig para ver como eles reagiriam. Ambos disseram que ficaram surpresos e que foram pegos despreparados.
Então eles fizeram exatamente o que eu precisava que eles fizessem – eles disseram que se importavam comigo e que eu poderia falar com eles sobre o que eu estava passando sempre que precisasse.
No início, Mitch falou mais enquanto Craig ficou bem quieto. Eu não sabia como ele se sentindo sobre aquela nova informação. Olhei para ele e disse: “Craig, entendo se você não quiser mais ser meu colega de quarto”.
Ele pareceu surpreso e respondeu: “Por que eu não seria mais seu colega de quarto? Você é a mesma pessoa que sempre foi”.
Mesmo que eu não soubesse, era exatamente o que eu precisava que ele dissesse. Eu estava me sentido infeliz e indigno, e pensava que ninguém iria gostar de mim se soubesse que eu sentia atração pelo mesmo sexo.
Permitir que Mitch e Craig soubessem dos meus sentimentos foi o início da minha cura. Minha vida mudou para melhor naquela noite. Eu não esperava a notável transformação que aconteceria em minha vida depois de conversar com meus amigos.
Enquanto conversava com Mitch e Craig, senti um enorme fardo sendo tirado dos meus ombros, um fardo cujo peso eu não havia percebi até que ele foi tirado de mim.
No Livro de Mórmon, Alma ensinou a seu povo que, quando somos batizados, fazemos convênio de “carregar os fardos uns dos outros, para que fiquem leves” e “chorar com os que choram” e “consolar os que necessitam de consolo” (Mosias 18:8-9).
Meus amigos dividiram meu fardo de bom grado e ele realmente se tornou leve para mim. Não acho que seria um participante ativo da Igreja hoje se Mitch e Craig não tivessem reagido ao expressar amor e aceitação.
O fardo que pensei estar carregando era a atração pelo mesmo sexo. Isso é o que eu acreditava que precisava ser curado.
No entanto, a aflição na qual eu realmente estava lutando era a vergonha. A vergonha e o ódio por mim mesmo pesaram sobre mim.
Com o passar dos anos, à medida que minha coragem aumentava, me abri para mais e mais pessoas e esse peso foi ficando cada vez mais leve, até que a vergonha e o ódio por mim mesmo desapareceram completamente.
Mitch e Craig foram o início dessa transformação. Eu poderia não ter tido coragem de continuar nesse caminho se meus amigos não tivessem me ouvido, me amado e tentado sinceramente me entender.
Meus amigos foram como Hermione, que disse a seu amigo Harry: “Aconteça o que acontecer, estamos com você”.
Fonte: LDS Living