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Superar o alcoolismo ao aprender a confiar em Deus

Nota do editor: Este artigo foi publicado originalmente como matéria de capa na edição de maio/junho da revista LDS Living. O tema da edição foi Amar Bem, no qual exploramos como abrir espaço em nossas vidas para o amor: espaço para reconhecê-lo, oferecê-lo e — talvez o mais importante — recebê-lo.

Bethany Corley, emocionalmente esgotada, sentou-se diante de duas missionárias. Seu marido, Christopher, já vinha se encontrando com missionários há semanas, mas tudo ainda era muito novo para Bethany.

O relacionamento do casal estava em um momento delicado. Quando o vício de Chris em álcool saiu de controle, Bethany, de coração partido, deixou o lar levando seus três filhos. Por mais de um ano, eles ficaram separados, enquanto Chris — que tem doutorado em música e era um professor respeitado antes de perder tudo — passou pela reabilitação e tentou reconstruir sua vida.

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“Eu sei que não se importa”

Nesse processo, Chris foi convidado a conhecer uma igreja: uma igreja cujos ensinamentos e escrituras haviam causado uma mudança tão visível nele que Bethany, ainda que com cautela, concordou em ir ver do que se tratava. Ela queria sua família unida, mas depois de tudo o que tinham passado, sentia-se impotente, desconfiada.

Durante a conversa com as missionárias, elas mencionaram que a primeira filha de Chris e Bethany havia falecido pouco depois do nascimento. Ao ouvir isso, a Sister Hope Dutson começou a chorar, expressando o amor que sentia por Bethany e testificando que o Pai Celestial também a amava. Mas nesse momento, Bethany se fechou.

“Eu apenas olhei para ela e disse: ‘Sister, eu sei que ensinam vocês a dizerem essas coisas antes de virem para cá. Você não precisa fingir que se importa tanto comigo. Eu sei que não se importa. Então, por favor, pare’”, relembra Bethany.

Mas a Sister Dutson não parou. Com os olhos cheios de lágrimas, ela respondeu: “Não. Eu estou falando sério. Eu genuinamente me importo com você e sinto muita compaixão por você.” Foi aí que as barreiras de Bethany caíram.

“Foi nesse momento que nós nos conectamos, e eu me tornei mais receptiva ao que elas estavam tentando nos ensinar”, diz Bethany.

A luz do amor que Chris, Bethany e seus filhos um dia haviam conhecido juntos foi enfraquecida por anos de dor e desconfiança. E, por um tempo, reacendê-la parecia impossível. Mas com o amor de pessoas boas e, acima de tudo, o amor de Deus, essa luz lentamente reascendeu — mais brilhante e mais forte do que antes.

O caminho para o alcoolismo

Chris Corley já esteve no topo do mundo. Como professor de música em várias universidades, era conhecido por seu brilhantismo musical, voz potente e carisma natural. Mas, nos bastidores, sua vida estava desmoronando.

Chris nasceu em Manhattan e frequentou uma escola particular onde participou de um rigoroso coral de igreja. Quase todas as noites, ele cantava em cultos realizados em uma grande catedral de uma igreja episcopal.

“Me apaixonei pela música clássica”, ele diz. “Me apaixonei pelos compositores europeus.”

Após o ensino médio, Chris foi aceito na Juilliard School. Após se formar, foi recrutado para cantar ópera profissionalmente na Europa.

“Eu ainda era muito jovem e, de muitas maneiras, não tinha amadurecido emocionalmente”, ele lembra. “Mas me ofereceram mais dinheiro do que eu jamais havia imaginado ganhar. E eu queria viajar. Então fui.”

Nos anos seguintes, enquanto se apresentava em vários países da Europa, Chris se viu em muitas situações onde beber (inclusive beber sendo menor de idade) era normal. No final dos seus 20 anos, já era um alcoólatra.

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Uma espiral descendente

No início, isso não afetou sua vida nem sua música; seu corpo jovem conseguia aguentar.

“A aparência externa de normalidade durou bastante tempo, embora não houvesse nada de normal no que eu fazia; não havia nada de normal na minha forma de beber”, ele diz.

Chris ficou assustado e buscou ajuda. Leu livro após livro sobre como parar de beber e gastou dinheiro com psicólogos e grupos de autoajuda. Visitou diferentes igrejas e se encontrou com líderes religiosos em busca de apoio, mas mesmo assim continuava bebendo. E essa luta começou a afetar sua percepção de Deus.

“Na minha cabeça, eu dizia: ‘O Senhor faz acepção de pessoas. Ele tem seus favoritos. Porque… existem pessoas que conseguem parar de beber e fumar, mas eu não consigo’”, Chris relembra. “Eu estava num lugar muito escuro. Estava muito bravo com o Senhor porque achava que Ele não gostava de mim.”

Por volta dos 30 e poucos anos, Chris decidiu parar de viajar e seguir carreira na educação. Obteve um doutorado em musicologia, com ênfase em etnomusicologia, pela Florida State University e, posteriormente, lecionou na mesma universidade, além de atuar na Florida A&M University e na Millersville University of Pennsylvania.

No fundo do poço

Consumido por seus sentimentos amargos em relação a Deus, Chris aproveitava qualquer oportunidade para desafiar estudantes que tinham formação religiosa, tentando abalar seus testemunhos ao apontar falhas nas religiões.

“Não me orgulho disso”, ele diz, “mas é parte da minha história.”

O primeiro casamento de Chris terminou devido ao seu alcoolismo, e mais tarde ele se casou com Bethany, em 2011. Alguns anos depois, veio a gota d’água — Chris perdeu a voz.

“Eu tinha uma voz realmente grande, bonita e poderosa”, ele diz. “As pessoas ouviam o que eu tinha a dizer. Mas, de repente, eu não conseguia mais produzir som com as cordas vocais.” Chris gastou muito dinheiro consultando médicos em busca de respostas, mas ninguém conseguia encontrar qualquer problema.

Eventualmente, alunos começaram a reclamar porque seu professor de música não conseguia falar, muito menos cantar. E todo o estresse levou Chris a beber ainda mais e a mergulhar mais fundo na depressão. 

Ele acabou sendo preso por dirigir sob influência de álcool e causar um acidente. Felizmente, ninguém se feriu, mas o acontecimento estampou a primeira página do jornal. Pouco depois, Chris foi demitido do cargo de professor.

Então, no dia seguinte ao nascimento do terceiro filho do casal, Chris sofreu outro acidente de carro devido ao álcool. Bethany sentiu que não tinha outra escolha a não ser pegar seus três filhos e ir morar com seus pais. Algo precisava mudar.

Pode ser interessante: Minhas orações estão sendo ouvidas?

Um encontro nada casual

Enquanto estava em um centro de reabilitação, Chris fez uma última oração desesperada e, com raiva, disse a Deus que, se Ele enviasse alguém para lhe ensinar coisas espirituais, Chris ouviria — mas apenas para provar que isso não funcionaria.

“A minha oração foi: ‘Eu não acho que o Senhor se importe com pessoas que vêm de um histórico como o meu, de alcoolismo. Mas, seja lá o que o Senhor enviar, eu farei tudo o que mandarem. Porque aí eu poderei dizer a qualquer pessoa de fé que isso não funciona’”, conta Chris.

Ele não precisaria esperar muito para que sua oração fosse respondida — mas não exatamente da maneira que esperava.

Quando saiu do centro de reabilitação, sua voz ainda não havia se recuperado o suficiente para que ele pudesse voltar a ensinar ou cantar. Então, ele publicou seu currículo na internet, esperando qualquer oportunidade. 

Eventualmente, foi contratado para uma vaga remota em uma empresa de benefícios para funcionários do Tennessee, que, coincidentemente, era de propriedade de Mark Riches — um membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, apaixonado pela obra missionária.

Com o tempo, Mark percebeu que Chris estava tendo dificuldade de concentração no trabalho, então o convidou a ir periodicamente para Cookeville, Tennessee, para trabalhar no escritório local.

“Ele precisa do evangelho de Jesus Cristo”

Chris aceitou e passou a viajar regularmente da Pensilvânia para o Tennessee, e Mark pôde ver que ele estava realmente lutando emocionalmente.

“O pensamento que me veio imediatamente foi: ele precisa do evangelho”, lembra Mark. “Essa é a única coisa que pode ajudá-lo. Eu poderia ajudá-lo financeiramente através do trabalho, mas suas necessidades eram maiores do que apenas profissionais. Ele precisava do evangelho de Jesus Cristo.”

Mark começou contando a Chris que o evangelho havia abençoado sua vida com paz e felicidade, e então o convidou para se reunir com os missionários em sua casa. Chris aceitou, e os missionários, sabendo um pouco da história de Chris, sugeriram que ele não começasse a leitura do Livro de Mórmon pelo início, mas sim pela história de Alma, o filho.

“Eu comecei por ali e pensei: será que essas pessoas escreveram isso só para mim?” Chris diz. “Nunca consegui me identificar tanto com uma história… Eu tinha [como Alma, o filho] antipatia por pessoas que tinham um testemunho. Certamente tinha aversão à igreja; tinha aversão a tudo o que fui exposto na infância. E [como Alma], fui derrubado a ponto de não conseguir mais transmitir aquele veneno” (ver Mosias 27).

Para sua surpresa, Chris não conseguia se cansar do Livro de Mórmon nem das lições missionárias.””Ele absorvia tudo como uma esponja”, diz Jennifer, esposa de Mark. 

Nas viagens de 11 horas entre sua casa na Pensilvânia e o Tennessee, Chris ouvia o Livro de Mórmon sem parar — e queria compartilhar com Bethany tudo o que estava aprendendo e sentindo.

Chris e Bethany com três de seus filhos no dia do batismo do casal, 3 de agosto de 2018.

Um novo capítulo para Chris e Bethany

Então, para ajudar Chris, Mark e Jennifer convidaram Bethany para ir até Cookeville e ficar com eles, para que pudesse ver com seus próprios olhos as mudanças que Chris estava passando. 

No entanto, naquela altura, Chris e Bethany já estavam separados havia 15 meses, e ela estava muito hesitante. Mas algo dentro dela lhe dizia para tentar.

“Arrumei roupas suficientes para mim e para as crianças para ficarmos uma semana — e nunca mais saí [de Cookeville]”, diz Bethany.

Embora, no começo, Bethany estivesse naturalmente desconfiada de todos, o amor sincero que sentiu das missionárias e da família Riches enterneceu seu coração. Ela ficou disposta a tentar o que as missionárias a convidavam a fazer. Assim, ela e Chris começaram, pouco a pouco, a ler o Livro de Mórmon e a orar juntos.

“Estávamos apenas começando a tentar entender nosso casamento — se iríamos fazer isso dar certo ou não”, diz Bethany. 

“E a cada lição e a cada mandamento que nos ensinaram, nós colhíamos as bênçãos… Notamos uma diferença em nós mesmos, notamos uma diferença no nosso casamento e notamos uma diferença em nossos filhos.”

“À medida que cada dia e cada semana passavam, a mudança milagrosa em nossas vidas era evidente. Você podia ver, desde o momento em que chegamos a Cookeville até algumas semanas depois, passando pelas lições com as missionárias, como nossas vidas haviam mudado por aprender a verdade e procurar guardar os mandamentos o melhor que podíamos.

 E, porque nossas vidas tinham sido tão sombrias e pesadas por tanto tempo, ver a luz e depois nos tornarmos luz — foi incrível.”

Chris, Bethany, Jennifer e Mark no Domingo de Páscoa, em março de 2024.

O milagre e a mudança de Chris

“É realmente um milagre ver a mudança que acontece nas pessoas ao longo do tempo, quando elas se filiam à Igreja e se aproximam do Salvador”, diz Jennifer. 

Mark acrescenta: “Chris tinha um passado bastante difícil, com alcoolismo, vícios e tudo mais, mas o Salvador via quem Chris realmente era e queria libertá-lo disso. Poder ver quando [o Salvador] estende Sua mão e resgata almas — isso foi poderoso.”

Hope Dutson, a missionária que havia prestado testemunho seu amor por Bethany naquele primeiro encontro, mantém contato com a família Corley e diz que foi para sempre transformada por eles.

“Eles passaram por muitas dores, mas ver até onde chegaram realmente mostra a transformação causada pelo amor de Deus. E mostra a Expiação do Salvador em ação”, ela diz. 

“Ninguém está tão perdido, e ninguém está tão longe a ponto de não poder voltar. Sempre temos o amor de Deus; nada pode tirar esse relacionamento.”

Os Corleys ainda vivem em Cookeville e continuam vendo os Riches com frequência.

“Para mim, eles são nossa família”, diz Jennifer. “Isso não acontece com todo mundo para quem você compartilha o evangelho, mas com eles, poderia dizer que são [filhos] nossos, e [os filhos deles] são meus netos. Tratamos eles como tratamos nossos outros netos, que consideram as crianças Corley como seus primos.”

Sister Hope Dutson (à esquerda) e Sister Sarah Holloway (à direita) com Chris e Bethany após o casal receber suas investiduras no Templo de Nashville, Tennessee, em 10 de agosto de 2019. Bethany está segurando a filha Scarlett Hope, que recebeu o nome em homenagem à irmã Dutson.

Um lar de luz e paz

Chris e Bethany viram a luz e a paz crescerem dentro de seu lar, com a dor do passado não os assombrando mais.

“Foi uma mudança incrível. Eu sei de onde viemos, e não quero”, diz Bethany, acrescentando que eles já tiveram muitas oportunidades de compartilhar o evangelho. “Eu sempre digo isso — nosso trabalho é ser a luz do sol e caminhar nela.”

Agora, assim como seu herói do Livro de Mórmon, Alma, o filho, Chris ama edificar a Igreja. Nos últimos cinco anos, ele foi presidente do quórum de élderes, serviu no sumo conselho e atualmente está no bispado. 

Sua voz também se recuperou completamente aos poucos, e ele chegou a considerar voltar à carreira musical. Mas, ao levar essa decisão ao Senhor, sentiu-se chamado para um rumo diferente.

“Recebi uma impressão muito forte de que haverá um tempo para a música. [Mas] agora… meu lugar é aprender e servir em nossa congregação”, ele diz.

A família Corley no outono de 2023.

De todas as mudanças, a maior

De todas as mudanças que Chris fez em sua vida, talvez a mais importante tenha sido a mudança em como ele vê Deus. 

Durante a reabilitação, Chris acreditava que Deus não se importava mais com ele por causa dos erros que havia cometido. Mas a verdadeira natureza do amor de Deus o libertou.

“Minha oração na reabilitação foi uma oração irreverente, mas ainda assim foi uma oração, e Deus a honrou”, diz Chris. 

“Ele queria que eu conhecesse a família Riches, que tem amor pelo trabalho missionário, e que eu saísse da Pensilvânia para o Tennessee porque sabia que aquelas missionárias seriam perfeitas para nós. O Senhor me deu milagres que tocariam meu coração e meu espírito. Onde estou agora é realmente um milagre. …

“Quando cheguei ao templo [para receber minha investidura], eu conhecia o coração do Senhor — Ele está procurando por Seus filhos para fazer promessas e convênios com Ele porque quer abençoar nossas vidas. Ele nos mostrou que essa é a Sua natureza.”

Fonte: LDS Living

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