O Livro de Mórmon é um plágio do livro “Visão dos Hebreus”?
Como Santos dos Últimos Dias acreditamos no Livro de Mórmon como uma escritura sagrada, enquanto outros o veem como uma obra questionável. A controvérsia sobre sua autenticidade existe há quase 200 anos, desde que Joseph Smith, um jovem fazendeiro com pouca educação formal, apresentou o livro como uma tradução inspirada de registros antigos.
Alguns críticos sugerem que Joseph se inspirou em “View of the Hebrews” (“Visão dos Hebreus”, em tradução livre), uma obra publicada em 1823 por Ethan Smith (sem relação de parentesco com Joseph). Vamos explorar o que realmente se sabe sobre essas supostas influências e as diferenças entre os dois textos.
Contexto, diferenças e influências
Em 1823, Ethan Smith publicou “Visão dos Hebreus”, onde argumenta que os antigos israelitas viajaram do Oriente Médio para as Américas, e que os nativos americanos descendem desses imigrantes israelitas. Essa teoria não era exclusiva de Ethan Smith. Muitas pessoas da época compartilhavam ideias similares sobre a origem dos povos indígenas americanos.
A ideia de que israelitas poderiam ter vindo para as Américas é uma semelhança interessante entre “Visão dos Hebreus” e o Livro de Mórmon, que também relata a migração de um grupo israelita para o Novo Mundo. No entanto, as semelhanças entre os dois textos ficam menos convincentes quando examinadas mais a fundo.
Uma das principais diferenças está nas circunstâncias e no modo como os israelitas teriam chegado às Américas em cada obra. Em “Visão dos Hebreus”, os israelitas mencionados são das tribos perdidas do norte de Israel, que escaparam da captura assíria por volta de 721 a.C. e migraram a pé, supostamente pelo estreito de Bering.
No Livro de Mórmon, porém, a história é de um grupo da tribo de Judá do reino do sul, que sai de Jerusalém por volta de 587 a.C., antes da invasão babilônica. Ao contrário dos israelitas de “Visão dos Hebreus”, esses imigrantes viajam de barco, não a pé. Portanto, apesar das aparentes semelhanças, os detalhes da narrativa e das viagens são bem diferentes.
Tanto “Visão dos Hebreus” quanto o Livro de Mórmon mencionam temas como a dispersão e a coligação de Israel, uma ideia fortemente inspirada pela Bíblia. Não é surpreendente que ambos os livros citem profecias e temas bíblicos, já que ambos os autores viveram em uma época onde o conhecimento bíblico era uma influência cultural significativa.
A citação frequente das escrituras no Livro de Mórmon, portanto, não implica que Joseph Smith tenha “copiado” Ethan Smith, mas sim que ambos os autores foram inspirados pelo mesmo contexto bíblico.
Falsas equivalências e temas contrários
É comum que críticos cometam o erro da “falsa equivalência” ao comparar esses dois textos. Só porque duas histórias possuem elementos parecidos não significa que uma tenha copiado a outra.
Por exemplo, Anakin Skywalker e Harry Potter são personagens “escolhidos” em suas respectivas histórias, mas isso não significa que “Harry Potter” tenha sido inspirado por “Star Wars”.
Do mesmo modo, o fato de “Visão dos Hebreus” e o Livro de Mórmon compartilharem algumas ideias gerais sobre Israelitas no Novo Mundo não significa que Joseph Smith copiou ou plagiou Ethan Smith.
Existem temas em “Visão dos Hebreus” que simplesmente não aparecem no Livro de Mórmon. Em “Visão dos Hebreus”, não há menção a revelação contínua, e Ethan Smith sugere que os nativos americanos imitam práticas como a Arca da Aliança e a circuncisão.
O Livro de Mórmon não menciona essas práticas, e ensina explicitamente a importância da revelação contínua, contrariando a visão apresentada em “Visão dos Hebreus”.
Paralelos
H. Roberts investigou muitas acusações contra a veracidade do Livro de Mórmon. Entre 1921 e 1922, ele elaborou uma lista de paralelos entre “Visão dos Hebreus” e o Livro de Mórmon, como qualquer bom estudioso faria. Essa perspectiva crítica exigia um modelo geográfico hemisférico para o Livro de Mórmon.
Muitos dos problemas destacados por Roberts desaparecem quando se considera uma teoria geográfica limitada. Outros “paralelos” não são mais válidos com base nos estudos acadêmicos atuais, e os restantes são insignificantes como observações explicativas para a origem do Livro de Mórmon.
Muitos dos “paralelos” discutidos não são realmente paralelos quando examinados de forma completa:
Ambos falam de… |
Livro “Visão dos Hebreus” |
Livro de Mórmon |
…a destruição de Jerusalém… |
…pelos romanos em 70 d.C. |
…pelos babilônios em 586 a.C. |
…israelitas vindo para o continente americano… |
…via terra seca através do Estreito de Bering. |
…pelo oceano a bordo de um navio. |
…colonos se espalhando por toda a terra… |
…do Norte para o Sul. |
…do Sul para o Norte. |
…um grande legislador (associado por alguns à lenda de Quetzalcoatl)… |
…que é identificado como Moisés. |
…que é identificado como Jesus Cristo. |
…um livro antigo que foi preservado por muito tempo e depois enterrado… |
…porque perderam o conhecimento para lê-lo e ele não teria mais utilidade. |
…para preservar os escritos dos profetas para gerações futuras. |
…um livro enterrado retirado da terra… |
…na forma de quatro folhas dobradas, escuras e amareladas de pergaminho antigo. |
…na forma de um conjunto de placas de metal dourado. |
…a língua egípcia, já que |
…há influência egípcia em pinturas hieroglíficas feitas por nativos americanos. |
…um egípcio reformado foi usado para registrar uma história sagrada. |
A dedicação de Robert o ajudou a fortalecer seu conhecimento e testemunho do Livro de Mórmon. Pouco antes de sua morte, em setembro de 1933, ele recebeu a visita de um amigo em seu escritório, Jack Christensen.
Durante a conversa, B. H. Roberts falou sobre seus estudos do Livro de Mórmon e então deu a Christensen sua opinião honesta: “Ethan Smith não teve nenhuma participação na formação do Livro de Mórmon.”
O Élder Roberts enviou todas as 435 páginas para o Presidente Heber J. Grant e o Quórum dos Doze em 15 de março de 1923. Em uma carta de apresentação, ele escreveu:
“Este relatório, aqui submetido, é o que pretende ser, a saber, um ‘estudo das origens do Livro de Mórmon,’ para a informação daqueles que devem saber tudo a respeito dele, tanto a favor quanto contra, incluindo aquilo que já foi e aquilo que ainda pode ser produzido contra ele. Estou assumindo a posição de que nossa fé não só é inabalável como inquebrantável no Livro de Mórmon, e, portanto, podemos olhar sem medo para tudo o que possa ser dito contra ele.”
A relação entre Ethan Smith e Oliver Cowdery
Outro ponto frequentemente mencionado pelos críticos é a relação de Ethan Smith com Oliver Cowdery, um dos primeiros conversos e escribas de Joseph Smith. Ethan foi pastor da igreja frequentada pela família de Cowdery, levando críticos a especularem que Oliver teria lido “Visão dos Hebreus” e o apresentado a Joseph.
Contudo, os registros históricos mostram que Ethan Smith assumiu a posição de pastor da congregação somente em 1821, e a última conexão conhecida da família Cowdery com essa igreja data de 1818. Além disso, Oliver só conheceu Joseph Smith em 1829, após o início da tradução do Livro de Mórmon.
Diferenças significativas de conteúdo
Existem inúmeras diferenças significativas entre “Visão dos Hebreus” e o Livro de Mórmon. O estudioso Hugh Nibley observou:
“Os críticos do Livro de Mórmon tornaram-se peritos em explicar um todo enorme com uma parte muito pequena. O jogo é procurar alguma pessoa ou documento misterioso de onde Joseph Smith poderia ter tirado algumas ideias simples e óbvias e então exclamar triunfantemente: ‘Finalmente encontramos! Agora sabemos de onde veio o Livro de Mórmon!’
‘Se alguém apenas me mostrar como desenhar um círculo,’ clama o jovem Joseph Smith, ‘farei para vocês um belo relógio suíço!’ Então, Joachim, Anselmo, Ethan Smith, Rabelais ou algum outro pega um graveto e desenha um círculo na areia, e imediatamente o astuto Joseph produz um mecanismo belamente ajustado que marca a hora com perfeição!
Isso não é exagero. O Livro de Mórmon, em estrutura e design, é tão complicado, detalhado e engenhoso quanto o trabalho de um relógio suíço, e, ainda assim, funciona de maneira suave. Sem um modelo para seguir ou qualquer tipo de instrução (Onde estava o modelo? Quem poderia instruí-lo?), o autor desse livro reuniu milhares de ideias e eventos e os interligou de forma maravilhosa.
Mesmo assim, os críticos gostam de pensar que explicaram o Livro de Mórmon completamente se apenas conseguirem descobrir de onde Joseph Smith poderia ter tirado uma de suas ideias ou expressões!”
Ethan Smith, graduado no Dartmouth College em 1790, tinha 63 anos quando “Visão dos Hebreus” foi publicado, contendo cerca de 57.000 palavras. Em contraste, Joseph, que quase não teve escolaridade formal, tinha 24 anos quando o Livro de Mórmon foi impresso, contendo quase cinco vezes mais palavras, totalizando 268.163.
Se Joseph Smith fosse plagiador, por que as melhores passagens em prosa e as doutrinas mais inspiradoras e perspicazes do Livro de Mórmon nunca aparecem em outros documentos como “Visão dos Hebreus”?
Pode-se argumentar que nenhum dos textos “paralelos” ou outras fontes que Joseph é acusado de plagiar contém narrativas semelhantes que encorajem alguém a realizar ou criar algo significativo, ou a promover uma mudança positiva em sua vida ou atitude.
Enquanto “Visão dos Hebreus” cita Isaías, ele não possui nada semelhante ao extenso sermão de Abinádi, que expõe algumas das doutrinas mais profundas e inspiradoras já escritas sobre a Expiação (Mosias 14-16).
Uma questão de perspectiva e análise
Embora alguns críticos se concentrem nas semelhanças entre “Visão dos Hebreus” e o Livro de Mórmon, uma análise mais profunda revela que eles são textos distintos, com temas, contextos e detalhes específicos.
As supostas influências diretas parecem menos convincentes quando analisamos as evidências. Para quem ainda tem dúvidas, vale a pena ler pessoalmente “Visão dos Hebreus” e o Livro de Mórmon. Afinal, analisar as fontes diretamente é sempre a melhor forma de entender suas particularidades e formar uma opinião informada.
Você já leu o Livro de Mórmon? Quais são os seus sentimentos sobre ele? Quer saber mais ou tem dúvidas? Deixe aqui nos comentários.
Fontes: Saints Uscripted, Debunking CES Letter
Veja também: Perguntas e respostas: o Livro de Mórmon é racista?
Posto original de Maisfé.org
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